Considerado um dos mais antigos e belos solares da Amazônia, não se tem informações precisas sobre a sua construção, datando alguns historiadores e memorialistas entre os anos de 1840 e 1860. O fato é que o Solar do Barão de Santarém é um ícone e testemunha da evolução da cidade ao longo da história. O estilo colonial português marcante em suas linhas arquitetônicas relembra a época em que o Brasil era um Império. E nestas fotos exclusivas, produzidas em 2005 e encontradas nos meus arquivos, observamos os ambientes internos do casarão localizado na Praça do Pescador e atualmente sem uso específico.

Detalhe da grande escadaria vista do primeiro pavimento (Foto: Fábio Barbosa)

Com uma visão privilegiada do encontro das águas dos rios Tapajós e Amazonas, o Solar é uma das poucas construções que ainda resistem ao tempo no que restou do nosso Centro Histórico. O lugar possui aproximadamente 14 cômodos, distribuídos em seus três pavimentos. Foi construído para abrigar a residência e comércio do Coronel Miguel Antônio Pinto Guimarães, agraciado com o título de Barão de Santarém em 1871, pela Princesa Imperial D. Isabel.

Na fachada, simétrica, sobressai o volume mais alto, em forma de camarinha, rasgado por três portas janelas, com frontão triangular. O segundo pavimento possui portas janelas com balcões em ferro, e o térreo, sete portas, sendo a porta principal com moldura de ornamentação ondulada. A divisão habitual do período histórico aponta para o térreo ocupado por lojas ou armazéns, o que explicaria os materiais simples, molduras em argamassa e sem decoração, assim como as portas quase rústicas. A edificação é bem semelhante ao Solar do Barão do Guajará, localizado em Belém (PA). A diferença estética é que no solar da capital a fachada é revestida de azulejos, com desenhos em formas geométricas nas cores brancas e azuis, provavelmente vindos de Portugal.

Leia mais: Cinco lugares históricos em Santarém

Vista interna do terceiro pavimento com a três janelas (Foto: Fábio Barbosa)

No térreo, tradicionalmente sempre funcionou um estabelecimento comercial. E até bem recente, abrigava lojas de confecções que utilizavam os andares superiores como depósitos de mercadorias, assim, como registrei na época das fotos.

Tudo por aqui parecia ter parado no tempo, esperando alguém restaurar ou então abrir as janelas para entrar a luz do sol. E mesmo nos dias atuais, anos depois, o Solar está aparentemente resistindo ao tempo, mas sua cobertura e paredes, por exemplo, apresentam sérios danos causados por infiltrações. As escadarias, testemunhas de grandes acontecimentos históricos, ainda guardam a forma original e recordam a imponência do prédio.

A grande escadaria vista a partir da porta principal do Solar no térreo (Foto: Fábio Barbosa)
A grande escadaria vista do térreo ou primeiro pavimento (Foto: Fábio Barbosa)

Sem dúvida, todos gostariam de contemplar o Solar do Barão de Santarém restaurado e sendo utilizado como centro cultural ou mesmo ambiente museológico. É importante essa valorização e compreensão da importância de manter em pé o patrimônio histórico e arquitetônico do município. Mas enquanto isso não acontece, do alto das 10 janelas frontais, o casarão enfrenta as intempéries do tempo, presenciando as mudanças dos séculos.

Coronel Miguel Antônio Pinto Guimarães

O Coronel Miguel Antônio Pinto Guimarães foi um comerciante e político que exerceu diversos cargos públicos em Santarém, na então Província do Grão-Pará, no período do Brasil-Império. Foi agraciado com o título de Barão de Santarém pela Princesa Regente D. Isabel em 1871. Além de nobre, foi também oficial (1855), comendador (1859) e dignitário (1867) da Imperial Ordem da Rosa , a ordem honorífica mais significativa do Império do Brasil, criada por D. Pedro I para homenagear civis e militares que distinguissem por sua fidelidade à pessoa do Imperador e por serviços prestados ao Estado.

Proprietário de Jornal Baixo-Amazonas, impresso em Santarém. Era fazendeiro com casa-grande, engenho e senzala em sua Fazenda Taperinha, onde tinha muitos escravizados e líder do Partido Conservador na região, sigla pela qual também exerceu o cargo de Presidente da Câmara Municipal.

Durante a Cabanagem ganhou notoriedade, primeiro lutando ao lado dos cabanos e após o assassinato do seu pai, alternando a posição de apoio como liderança no combate das forças rebeldes que invadiram a cidade. Atuou junto às forças legalistas no comando de estratégias para os combates ocorridos no reduto cabano de Ecuipiranga.

A Cabanagem serviu de projeção para que pudesse se destacar na região. Assim, adquiriu diversas propriedades no Baixo-Amazonas sendo também o maior detentor de escravos na cidade de Santarém. Miguel Antônio Pinto Guimarães em 1867 ajudou a patrocinar a instalação de uns 300 norte-americanos sulistas fugidos da Guerra de Secessão a se instalarem no município e na margem direita do Rio Tapajós, como constam em registros históricos. Faleceu em Santarém, no dia 16 de agosto de 1882.

Pesquisa sobre o Barão de Santarém a partir do texto de Wilson Fonseca, publicado no Programa da Festa de Nossa Senhora da Conceição – 1982.

Sobre o autor

Jornalista, formado pelo Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro - RJ. Produtor Cultural e Produtor de Conteúdo Digital. Idealizador dos projetos Caminhos da Floresta, Amazônia Fashion Weekend e Piracaia Festival. Autor do blog de turismo e viagens www.diariodofb.com. Diretor dos documentários O que é Sairé? (2021) e Trap: O som da juventude (2021) - produzido, gravado e editado em um smartphone.

Você também pode gostar: