Marcante na paisagem da vila balneária de Alter do Chão, em Santarém (PA), a serra conhecida como “Piroca” ou “Piraoca”, completa o cenário paradisíaco da Ilha do Amor. E uma das maiores dúvidas dos visitantes está justamente aí, no nome do lugar. Motivo de controvérsias e debates acalorados entre pesquisadores locais tornou-se opção turística com a trilha que percorre 2 km e chega ao alto dos 110 metros, com uma vista 360º.

Nas placas de identificação, colocadas pelos moradores, o termo usado é “Piroca” e isto tem lógica segundo os estudos do Padre Sidney Canto, membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTap). Originalmente esse lugar é a terra dos Índios Borari, uma comunidade localizada entre as águas do Rio Tapajós e o Lago Verde. Os jesuítas chegaram nesta região da Amazônia com o objetivo de catequizar e explorar na década 1680, quando o missionário Padre Antônio Pereira, trouxe a Missão de Nossa Senhora dos Tapajós. O nome Alter do Chão foi dado por Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Governador Geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão (1701 -1769),  anos mais tarde quando elevou o povoado  à condição de vila, homenageando uma vila de Portugal, no Distrito de Portalegre.

Desenho do final do século XIX que ilustra o estudo do geólogo Friedrich Katzer. Observe que não há cruzeiro no alto (Arquivo Padre Sidney Canto)

O padre jesuíta João Daniel, anos mais tarde, na década de 1760, ao descrever a antiga Missão dos Ibirarib [sic], renomeada como Alter do Chão, depois da expulsão dos missionários, disse: “da outra banda, isto é, da parte do norte, quase fronteiro à vila um eminente pináculo muito alto, onde afirmam alguns que mostras e sinais de ouro”. Neste mesmo período, há uma descrição, feita pelo então Bispo do Pará, Dom Frei João de São José: “Na frente desta vila está um monte, que se distingue bem entre outros na altura, dificultoso de subir e redondo, não tendo em o cume mais do que o espaço de uma sala ou casa ordinária”.

Neste contexto, segundo Sidney Canto: “os viajantes do passado mais remoto (séculos XVIII e XIX) descreveram a serra de Alter do Chão como Piroca. Gostaria de acrescentar que, depois dos primeiros estudos geológicos, como do austríaco F. Katzer (final do século XIX) vieram alguns estudos patrocinados pelo Governo do Estado, como o do brasileiro Pedro de Moura, corroborado pelo francês Paul Le Cointe (no início do século XX). Ambos confirmam ser o nome do acidente geográfico Piroca”.

“Piroca”, segundo o dicionário nheengatu de Ermano Stradelli, significa: “pelado, depenado, descascado”. Na Grande Enciclopédia da Amazônia, do historiador paraense Carlos Roque, é descrita como “Serra que se localiza a margem direita do Rio Tapajós, próxima ao Ponto do Caruru, perto da Vila de Alter do Chão, município de Santarém, Estado do Pará (zona fisográfica do Baixo-Amazonas)”. E para Sidney Canto: “os indígenas Borari, ao contemplar a serra, desprovida de árvores a chamavam espontaneamente de Ibitira Piroca (monte pelado, monte sem mata)”.

A serra, portanto, historicamente é Ibitira Piroca ou Piroca (mais simples!). Mas de onde vem o Piraoca? Esse termo é a junção de duas outras palavras do nheengatu: Pirá (peixe) e Óca (casa). Os registros são mais recentes, na maioria em publicações de jornais e revistas de turismo. Reproduzidos em sites e blogs e posteriormente popularizado no linguajar de quem tem algum receio do possível duplo sentido do nome original. “Em todo o acervo histórico por mim consultado (inclusive diversos jornais) até os anos 1980, não encontrei nenhum outro nome que não fosse esse. Alguns relatos antigos são repletos de um certo pudor (como o do Bispo Frei João de São José) chamam o monte de “calvo” (que em língua geral é Piroca)”, ressalta Sidney Canto.

Cruzeiro da serra na década de 1950 durante uma Santa Missão Popular (Arquivo Padre Sidney Canto)

E mais uma curiosidade: O cruzeiro, presente no alto da serra, simboliza a chegada da missão católica na região. Mas não há uma data específica até então da instalação da primeira estrutura que muito provavelmente era de madeira. O que pode ser afirmado é que ao longo dos anos foram vários cruzeiros, alguns inclusive destruídos por chuvas e raios. Quando foi fundada a Congregação Mariana na Vila de Alter do Chão, na década de 1930, um novo cruzeiro de madeira foi recolocado no alto da serra. Ou seja, anteriormente já existia!

Aventura com adrenalina no cruzeiro metálico da Serra Piroca (Foto: Arthur Azulino)

O atual cruzeiro metálico do alto da serra é da década de 1990.

 

Com informações preciosas do Blog do Padre Sidney Canto 

Sobre o autor

Jornalista, formado pelo Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro - RJ. Produtor Cultural e Produtor de Conteúdo Digital. Idealizador dos projetos Caminhos da Floresta, Amazônia Fashion Weekend e Piracaia Festival. Autor do blog de turismo e viagens www.diariodofb.com. Diretor dos documentários O que é Sairé? (2021) e Trap: O som da juventude (2021) - produzido, gravado e editado em um smartphone.

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