O segundo domingo de outubro é marcante para quem visita Belém (PA). Há na cidade um ar de festa, uma confraternização popular que é impossível traduzir em palavras. É o Círio de Nossa Senhora de Nazaré que personifica a fé católica na mãe de Jesus e o espírito de receptividade do paraense. Você pode ser de qualquer outra religião, mas conseguirá sentir essa emoção!

A origem dessa procissão remonta o ano de 1700, quando Plácido José de Souza encontrou uma pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré às margens do igarapé Murutucu. Neste local, hoje encontra-se a suntuosa Basílica Santuário. Desde então, essa festa tornou-se a maior manifestação religiosa do país, sendo considerada Patrimônio Cultural Brasileiro. É disso que se trata o Círio, cultura! Um evento que rompe as barreiras, que toca os fiéis e transforma fé em um ato de pura sensibilidade cristã.

Assista nesse vídeo, com imagens do Círio, o Hino “Vós sois o Lírio Mimoso”, na interpretação de Feliphe Bruno.

Antecedendo o domingo, na sexta, acontece um traslado entre os municípios de Ananindeua e Marituba, na região metropolitana. A romaria rodoviária acontece no sábado, saindo de Ananindeua até o trapiche de Icoaraci. A Santa atravessa o rio e chega na escadinha da Praça Pedro Teixeira, ao lado da Estação das Docas, já em Belém. Então começa a procissão nas águas da Baía do Guajará. Esta cercada de símbolos da Amazônia, como as pequenas embarcações dos ribeirinhos, enfeitadas com bandeirinhas coloridas. Há também muitas lanchas e jet skis, todos saudando a Rainha da Amazônia. Da orla, a visão surpreende, como é lindo nosso rio com fogos festejando a padroeira! E na chegada, motociclistas escoltam Nossa Senhora de Nazaré até o tradicional Colégio Gentil Bittencourt, na Avenida Magalhães Barata. À noite, após uma missa, outra procissão caminha com a santinha até a Catedral da Sé, na Cidade Velha (a chamada Trasladação). São milhares de pessoas, com velas, celulares, lanternas…

Transladação do Colégio Gentil Bittencourt até a Catedral da Sé (Foto: Tássia Barros/ Agência Belém)

… E no domingo, cedinho às 7h, de fato começa o trajeto do círio pelas ruas de Belém, cerca de 3,6 km até a Brasília de Nazaré.

Dica do FB: Uma curiosidade: A imagem original fica no Glória (altar) da Basílica Santuário. No ano 1968, para tentar preservá-la, foi criada a Imagem Peregrina, encomendada ao escultor italiano Giacomo Mussner, que desde então passou a ser utilizada nas romarias e visitas.

Bençãos para fiéis com água benta (Foto: Tássia Barros/ Agência Belém)

E neste percurso, muitas emoções: Olhos marejados, mãos segurando terços, joelhos dobrados, braços que carregam casinhas de isopor, crianças vestidas de anjos, tijolos na cabeça, etc. Na corda dos promesseiros, uma multidão se espreme em pleno verão amazônico para agradecer. E essa gratidão, com força e fé, é um sacrifício enfrentado com pés descalços, na garra! São tantas histórias, milagres e bênçãos, é impossível não ser tocado por isso.

Quem não pode acompanhar, ajuda distribuindo água, colocando papelão no caminho de quem está de joelhos, oferecendo uma palavra de entusiasmo. O cansaço é grande, suor e lágrimas se misturam, não há classe social, nem diferenças, são todos irmãos nessa caminhada. É um momento único para quem está ali, seja no meio das milhares de pessoas ou simplesmente assistindo a procissão.

Corda dos promesseiros, demonstração de força e fé (Foto: Tássia Barros/ Agência Belém)

Falamos sempre aqui de turismo de experiência e o Círio de Nossa Senhora de Nazaré representa essa vivência única. E vai além, proporcionando uma imersão na história do Norte do Brasil, nas tradições, na gastronomia (como pensar em círio sem maniçoba?), na fé e no cotidiano dessa gente batalhadora que acredita que os problemas do mundo, tem solução na intercessão da mãe de Jesus.

Para completar o percurso de joelhos, fiéis usam papelão para não se machucar (Foto: Tássia Barros/ Agência Belém)

Você já esteve no círio? Conte como foi essa viagem!

E para quem ainda não foi, vamos lá viver essa experiência?!

Sobre o autor

Jornalista, formado pelo Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro - RJ. Produtor Cultural e Produtor de Conteúdo Digital. Idealizador dos projetos Caminhos da Floresta, Amazônia Fashion Weekend e Piracaia Festival. Autor do blog de turismo e viagens www.diariodofb.com. Diretor dos documentários O que é Sairé? (2021) e Trap: O som da juventude (2021) - produzido, gravado e editado em um smartphone.

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