A Festa do Sairé, realizada anualmente na encantadora vila de Alter do Chão, em Santarém (PA), é um dos eventos mais emblemáticos da cultura paraense. A celebração dos descendentes dos indígenas Boraris, mescla elementos religiosos, folclóricos e culturais, que demonstram a riqueza da cultura amazônica. Cinco símbolos destacam-se no rito tradicional, revelando a identidade única dessa manifestação:

1 – O Sairé

O Sairé efetivamente é um semicírculo, produzido em cipó, coberto por algodão e enfeitado com fitas de cetim. O símbolo possui três cruzes que fazem referência à Santíssima Trindade.

 

Para o povo Borari pode ser a “arca de Noé” ou “uma meia lua” simbolizando a lua minguante. Antigamente, segundo relatos do site Memórias do Sairé, já foi decorado por plantas e galhos, passando a ser entrelaçado por fitas que representam as cores do arco-íris.

2 – A Coroa

A Coroa da Santíssima Trindade é confeccionada em prata e permanece sempre próxima ao Símbolo do Sairé. Nas procissões é levada pela Juíza do Sairé. É adornada com fitas coloridas de cetim e na cerimônia do “Beija Fitas” ganha protagonismo entre os participantes do rito.

A Coroa na entrada na Igreja de Nossa Senhora da Saúde (Foto: Lucas Clemente/ Namazonia)

Esse objeto é um dos símbolos da iconografia do Espírito Santo. A Coroa representa a ideia do “império divino”, é produzida de prata batida e lavrada, contendo diversos outros símbolos paracletos, com seis hastes. Em sua parte superior, uma pomba de asas abertas pousa sobre uma esfera, simbolizando o globo terrestre.

3 – Os Mastros

Em 1973, a comunidade de Alter do Chão, o Movimento de Educação de Base (MEB) e o Governo do Pará, decidiram rememorar a tradição do Sairé, que havia sido proibida em 1943. Foram incorporados novos elementos, como os mastros, originalmente relacionados à Festa de Nossa Senhora da Saúde, padroeira da vila.

Grupo de mulheres carrega um dos mastros que serão erguidos na Praça do Sairé (Foto: Mauro Nayan)

Os mastros são um símbolo de fertilidade, tipicamente presentes em festas de origem portuguesa e associados ao catolicismo. São erguidos na quinta-feira e derrubados na segunda-feira do Sairé, marcando o início e o término da festa, respectivamente. Atualmente, esses mastros são divididos entre dois grupos, um composto por homens e outro por mulheres.

4 – As bandeiras do Divino Espírito Santo

De origem portuguesa, as bandeiras do Divino Espírito Santo estão presentes em diversas festas da cultura popular brasileira, com múltiplos significados. Em Alter do Chão, a bandeira branca representa a Juíza, enquanto a bandeira vermelha representa o Juiz do Sairé.

Bandeira Branca e Bandeira Vermelha, símbolos que acompanham as procissões e cerimônias do Sairé (Foto: Agência Santarém)

Este símbolo está presente em todas as procissões da festa e permanece sempre próximo ao Sairé, que é representado no semicírculo.

5 – A Corte do Sairé

“Se tem coroa, tem uma corte!” E o significado da palavra que está associado à “residência de um soberano, paço ou às pessoas que rodeiam esse soberano” ganha vida em Alter do Chão. São cerca de 80 moradores que compõem a Corte do Sairé, divididos em personagens cerimoniais:
Côrte do Sairé (Foto: Agência Santarém)

 

CAPITÃO: O capitão tem a função de comandar a procissão. Com uma espada de madeira na mão e vestindo indumentária branca, o Capitão segue durante toda a procissão abrindo o caminho para passar o arco do Sairé.

SARGENTO: O sargento tem a função de auxiliar o Capitão em suas funções.

ALFERES: São eles que estão à frente da procissão o tempo todo carregando uma bandeira vermelha e uma bandeira branca.

JUIZ E JUÍZA: São os responsáveis pelo rito tradicional e aqueles que detém grande conhecimento sobre a festa.

PROCURADOR E PROCURADORA: São os únicos que podem substituir o juiz e a juíza caso precisem se ausentar ou precisem de ajuda para algo dentro da festa.

REZADEIRAS: São as mulheres responsáveis pelas rezas e canções de exaltação ao Divino Espírito Santo durante toda a festa do Sairé.

TRONEIRA: A troneira é a guardiã de todos os símbolos que compõem o Sairé. É ela, por exemplo, que recebe das mãos da juíza a coroa e a posiciona dentro do barracão.

SARAIPORA: É ela quem conduz o símbolo do Sairé durante as procissões e que também o guarda durante todo o ano.

MOÇAS DA FITA: São jovens com vestimentas semelhantes à da Saraipora que seguram fitas presas ao topo do símbolo do Sairé e simboliza pureza e a ligação entre o Divino e os homens. Por isso, essas moças precisam ser virgens.

MOÇA DO TAMBORINHO: Essa jovem é a responsável por dar o toque de saída da procissão e do balanço do símbolo do Sairé.

MORDOMOS E MORDOMAS: Além de conduzirem o mastro na procissão, formam cordões humanos próximo ao mastro, carregando varinhas coloridas durante a festa. Além disso, são os responsáveis pela realização dos trabalhos no entorno do Barracão.

RUFADORES: Na festa do Sairé eles são conhecidos como foliões, pois entoam rezas e folias ao Divino Espírito Santo durante os ritos do Sairé.

DISPENSEIRA: É a pessoa responsável pela despensa da festa. É ela quem controla a entrada e saída de alimentos.

CAFETEIRA: É ela quem garante o café quentinho dentro do Barracão do Sairé durante todo o festejo.

COZINHEIROS: São os responsáveis pelo preparo do alimento que será servido aos foliões. Trabalha não somente durante a festa, mas também antes e depois de seu término.

 

Com informações do site Memória do Sairé e do Portal do Divino.

Sobre o autor

Jornalista, formado pelo Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro - RJ. Produtor Cultural e Produtor de Conteúdo Digital. Idealizador dos projetos Caminhos da Floresta, Amazônia Fashion Weekend e Piracaia Festival. Autor do blog de turismo e viagens www.diariodofb.com. Diretor dos documentários O que é Sairé? (2021) e Trap: O som da juventude (2021) - produzido, gravado e editado em um smartphone.