O brasileiro é sem dúvida muito criativo na hora de fazer trocadilhos e em Santarém (PA) isso ganha ainda mais visibilidade quando observamos lugares que são chamados por um nome, mas possuem outro oficialmente. Um dos clássicos é o caso do Centro Cultural João Fona, que popularmente é denominado de “museu João Fona”.
Vamos definir e explicar:
O conceito de centro tem a sua origem no latim centrum e pode fazer menção a diversas questões. Uma das acepções refere-se ao lugar onde se reúnem as pessoas com alguma finalidade. Cultural, por sua vez, é aquilo que pertence ou é relativo à cultura. Esta noção, do vocábulo latino cultus, diz respeito às faculdades intelectuais do homem e ao cultivo do espírito humano. Um centro cultural é portanto o espaço que permite participar em atividades culturais. Estes centros têm o objetivo de promover a cultura entre os habitantes de uma comunidade.
Assim, o nosso Centro Cultural é um lugar de diversas atividades culturais, entre elas, um museu, que guarda peças da cerâmica Tapajônica.
Saindo do antigo prédio da Prefeitura Municipal, a praça ao redor é conhecida como “São Sebastião”, mas originalmente era Largo do Paço Municipal e após a morte de Miguel Antônio Pinto Guimarães foi rebatizada de Praça Barão de Santarém, em homenagem ao ilustre comerciante e político. O logradouro público é um cenário com réplicas da cerâmica Tapajônica, o anfiteatro Joaquim Toscano que atualmente possui arte urbana e um obelisco que marca o primeiro centenário da independência do Brasil. Já a Praça São Sebastião é do outro lado da Rua dos Artistas, ao redor da igreja e no mesmo complexo arquitetônico no bairro Prainha.
O caso mais icônico trocadilho está na praça que todos chamam de “Três Patetas”. Atualmente é denominada Elias Ribeiro Pinto (Lei Municipal Nº 17.783, de 31 de outubro de 2003), em homenagem ao Prefeito afastado do cargo em 1968 pelos militares. De acordo com o Historiador Padre Sidney Canto, o lugar a princípio foi chamado de “31 de março” e inaugurado no dia 24 de outubro de 1969, na Intervenção Federal do capitão Elmano de Moura Melo, por ocasião do aniversário da elevação de Santarém à categoria de cidade, com um projeto arquitetônico de Renato Sussuarana, com as estátuas representando as Forças Armadas, assinadas pelo artista plástico Laurimar Leal.
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O nome popular da praça que embora remeta aos nada divertidos anos de chumbo da ditadura militar faz referência a hilariantes personagens da antiga teledramaturgia – Moe, Larry e Curly, mais conhecidos como “Os Três Patetas”, grupo cômico norte-americano. As estátuas foram retiradas de lá e não se sabe o paradeiro!
A Praça Fortaleza do Tapajós é outra com problemas de identidade. O lugar onde séculos atrás estava localizada a Fortaleza de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Monte Alegre dos Tapajós por muito tempo foi denominado de Praça do Frei Ambrósio, fazendo referência ao colégio homônimo, localizado ao lado. Após uma reforma no início dos anos 2000 passou a ser chamado de Praça do Mirante com a construção do observatório e dos quiosques.
O nome definitivo veio em 2018, uma mudança de nome solicitada à Prefeitura de Santarém pelo Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTap):
“Essa fortaleza foi construída no final do século XVII, em 1694 e inaugurada em 1967 sem nunca estar concluída. Ocorre que desempenhou funções importantes no processo de defesa da região, principalmente contra as invasões dos índios Mundurukus, que atacavam os índios Tapajó e outras invasões que aconteciam, principalmente na Cabanagem”, destacou a historiadora Terezinha Amorim, em entrevista do G1 Santarém e Região.
E Praça Monsenhor José Gregório, na frente da Catedral Metropolitana da Arquidiocese de Santarém, quase ninguém conhece por esse nome, apenas “Praça da Matriz”, fazendo referência ao nome original “Largo da Matriz”.
Texto-base publicado originalmente em O Liberal, em 28 de julho de 2022, com o título: É Pará Isso: nomes e apelidos que contam a História de Santarém