Ao entrar na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, em Santarém (PA) é impossível não notar o Crucifixo que decora o altar. O objeto é um presente com uma história de fé que envolve uma expedição que passou pela Amazônia no início do século XIX. Em 18 de setembro de 1819, o naturalista alemão Carl Friedrich Philipp von Martius resolveu se aliviar do calor e pensava que conseguiria acompanhar a embarcação a nado. Subestimou os ventos e ondas do Rio Amazonas e quase se afogou. Em um ato de desespero, conta-se que pediu que Jesus Cristo o salvasse e que se isto acontecesse iria mandar confeccionar um crucifixo em tamanho natural para a igreja que avistava de longe. Foi salvo e levado ao vilarejo, onde agradeceu com orações e garantiu que a promessa seria cumprida.
Quase duas décadas depois, a imagem feita em ferro fundido chegou à Santarém, sendo uma das poucas que retratam Jesus ainda vivo, com os olhos abertos. Uma placa também acompanhou a encomenda e nela está escrito o agradecimento da expedição (atualmente disponível no Museu de Arte Sacra da Arquidiocese de Santarém). O crucifixo foi inicialmente instalado na lateral da catedral e hoje se encontra no altar, na direção de onde, observando de dentro da igreja é possível ver o encontro das águas dos rios Tapajós e Amazonas.
História
Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) desembarcou no Brasil em 1817, acompanhando a Missão Austríaca que trouxe a grã-Duquesa Maria Leopoldina da Áustria para o casamento com o príncipe Dom Pedro I. Ele permaneceu três anos aqui e percorreu 10 mil quilômetros pelas regiões norte, nordeste e sudeste, registrando tudo que encontrava pelo caminho. Seus estudos sobre botânica ganharam destaque em todo o mundo com a primorosa obra “Flora Brasiliensis”, composta por 40 volumes, com mais de 20 mil espécies catalogadas. Em seus registros estão documentados também temas como o folclore brasileiros e etnografia.