O assassinato aconteceu no Gabinete do Prefeito (Foto destaque/Gabinete Protocolar), no prédio da antiga Prefeitura de Santarém, atualmente o Centro Cultural João Fona, em 15 de fevereiro de 1969. O autor do crime, Severino Frazão, esposo da artesã Dica Frazão, entrou na sede do executivo municipal, invadiu a sala e disparou vários tiros contra o Prefeito Elinaldo Barbosa dos Santos, que não resistiu e faleceu.

Registo da saída do cortejo fúnebre do Prefeito Elinaldo Barbosa dos Santos da Câmara Municipal (atualmente Theatro Victoria) – Foto: Acervo ICBS 

Severino ainda tentou fugir, se escondeu em uma residência nas proximidades, mas acabou sendo morto pela Polícia Militar. O motivo do crime seria o salário atrasado do servidor público que foi administrador do Mercado Municipal de Santarém (assista o vídeo).

O fato histórico e inusitado da nossa memória política é narrado no livro “Memória de Santarém”, do Jornalista Lúcio Flávio Pinto:

Nove e meia da manhã. Aproveitava eu a chuva que caia sobre a cidade para fazer uma arrumação em minha estante de livros, desde que não tinha aonde ir. De repente a “Rádio Educadora” anuncia que ia divulgar uma notícia em edição extraordinária. Logo depois, meu irmão Ércio Bermeguy, dizia:

– O Sr. Severino Frazão, ex-administrador do Mercado Municipal, acaba de assassinar o Prefeito Elinaldo Barbosa dos Santos, no seu próprio gabinete de despachos do gestor! Cometido o crime, o homicida evadiu-se e neste momento está sendo perseguido pela polícia.

E o locutor repetiu a trágica informação que, à semelhança do que ocorre em horas inacreditáveis assim, imediatamente transtornou fisionomias, lançando mais uma vez essa minha pobre Santarém num convulsivo torvelinho de boatos e de temores, de prantos e ódios, de angústias e perdões. Poucos minutos depois, soube-se que o assassino fora morto pelo sargento Raimundo Hércules, da Política Militar do Estado (…)

O assassinato teve repercussão nacional na edição de 21 de fevereiro de 1969 do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro (RJ) e também serviu como justificativa para a intervenção federal no município, que aconteceria naquele mesmo ano.

A publicação carioca destacou:

O prefeito Elinaldo Barbosa, ao assumir a Prefeitura, manteve a disponibilidade. Quinta-feira, na semana do carnaval [13 de fevereiro] Severino Frazão procurou o prefeito para saber a data de seu pagamento. O prefeito explicou-lhe que, na quinta-feira, era o pagamento do pessoal interno. Sábado, seriam pagos os diaristas, e, na segunda-feira, o pessoal externo, lote em que se achava o administrador em disponibilidade

No enterro, no ministério do Trabalho, o prefeito Elinaldo Barbosa estava pacificando a política do segundo maior município em importância do Estado do Pará e possivelmente seria eleito prefeito em março, em virtude, do afastamento definitivo-do prefeito Elias Pinto.

Severino Frazão, porém, não esperou. Sábado, entrou na Prefeitura, armado de dois revólveres. Gritou: “Vim buscar o meu dinheiro”; e, em seguida, atirou no prefeito, atingindo-o, mortalmente, na cabeça. Quando o prefeito caiu, o assassino descarregou ainda a arma, ferindo, na mão, o tesoureiro do município. Imediatamente o criminoso fugiu, por interferência do pároco local.

A casa do padre foi cercada por populares. Um soldado e um sargento da Polícia Militar invadiram-na, pelos fundos. Foram, então, ouvidos disparos de arma de fogo. O padre abriu a porta e saiu dizendo: “Já fizeram o que queriam.” Logo apareceu, o sargento, explicando, nervosamente: “ele reagiu.” O ministro d0 Trabalho declarou ontem, no Rio, em entrevista coletiva: “Tudo leva a crer que foram disparados dois tiros para o chão, perto dos pés do criminoso, e, como este reagisse, foi ferido, mortalmente, no ventre.

 

Com informações do livro “Memória de Santarém” (páginas 96 e 97) e do acervo digital do Correio da Manhã (Edição 23.272 – Ano LXVIII)

Sobre o autor

Jornalista, formado pelo Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro - RJ. Produtor Cultural e Produtor de Conteúdo Digital. Idealizador dos projetos Caminhos da Floresta, Amazônia Fashion Weekend e Piracaia Festival. Autor do blog de turismo e viagens www.diariodofb.com. Diretor dos documentários O que é Sairé? (2021) e Trap: O som da juventude (2021) - produzido, gravado e editado em um smartphone.

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