Laurimar dos Santos Leal nasceu em Santarém (PA) no dia 24 de julho de 1939, às 6h15 da manhã. É um artista plástico reconhecido no Brasil e no exterior por suas obras de arte. Foi criado por duas tias, as professoras Raquel e Judith de Sousa. E desde a infância já manifestava seu dom artístico, era apaixonado pelo natal, quando decorava a casa, montava a árvore e criava sempre um presépio diferente.
Por muitos anos foi o diretor do Centro Cultural João Fona, onde é possível conhecer a história da cidade e boa parte da história do artista. Pelos corredores do casarão os quadros têm assinatura de Laurimar. Se você tiver sorte encontrará ele sentado por lá e terá uma prosa com uma das poucas lendas vivas da arte brasileira. “Desde pequeno sempre tive habilidade para trabalhar com arte. Meu primeiro trabalho foi em 1948 quando eu tinha nove anos de idade. Fiz um trabalho que veio justamente para esta casa, onde hoje é o Centro Cultural João Fona”, recorda o pintor em uma conversa, onde tive a oportunidade de entrevistá-lo.
Pintor, escultor, artesão, poeta, cantor e autor de várias músicas, Laurimar é um artista completo. No Rio de Janeiro, onde estudou na Academia de Belas Artes, frequentou as altas rodas da sociedade da época. Neste período conheceu um amigo especial, o famoso arquiteto-paisagista Roberto Burle Marx. “Ele chegou ao ponto de vir aqui em Santarém e conhecer a minha casa. Ele, considerado o maior paisagista do mundo, foi meu amigo”, lembra. A capital carioca também lhe rendeu experiências nas escolas de samba. “Aprendi muito! Quando retornei para Santarém na década de 1970 comecei a fazer uma escola de samba, chamada Ases do Samba”, destaca o homem que tem uma memória impressionante.
Os cabelos brancos chegaram, mas todos os ensinamentos que Laurimar aprendeu foram e ainda são repassados. O pintor Apolinário, seguiu os passos do mestre e recorda do primeiro encontro: “Eu adentrei a igreja e ele estava com a santa, Nossa Senhora da Conceição, feita de madeira, colocando ela dentro de um camburão, de 200 litros, cheio de água com soda cáustica e outros removedores químicos. Estava tirando o excesso de tinta de todas as vezes que a santa foi pintada. Achei aquilo interessante, mas tive um choque. Ele me viu e disse que lá se fazia de tudo, o importante é que depois ela sairia bonita”. E ensinar foi o que Laurimar mais fez. “A melhor maneira que você tem para contribuir com o outro é fazendo repasses de conhecimento. O que eu aprendi faço questão de repassar para universitários, alunos de modo geral. E para os visitantes de vêm à Santarém”, revela.
Na biblioteca da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), boa parte da história artística de Laurimar está guardada. Sob a tutela do amigo e admirador, Miguel Borghezan, quadros importantes do artista podem ser vistos em uma exposição permanente. “Sou um apreciador de artes. Arte faz bem à alma. Nós viemos para cá com o Projeto Rondon em 1979 e já tinha ouvido falar dele. Quando retornei para Santarém em definitivo já em 1981 fui procurá-lo e o encontrei no Centro Cultural João Fona. Comprei esses quadros e quis deixá-los num lugar onde todos pudessem ver. É uma homenagem”, fala o advogado que é o maior colecionador das obras de Laurimar.
Tanto talento na pintura e em outras artes, acabou sendo fragilizado com o passar dos anos. Em 2005, Laurimar perdeu quase totalmente a visão. O homem que pintava quadros com cores vibrantes, agora não consegue enxergar as próprias obras. “Eu não sabia que tinha glaucoma. Quando fui saber já estava perdendo muito a visão. Hoje em dia eu enxergo só vultos. Mas assim mesmo, pinto ainda quadros. Faço usando a mão, tipo impressionismo e surrealismo. Uma arte diferente”, fala emocionado o homem cuja vida foi até tema de documentário em 2010 “Laurimar e outras Lendas”.
Apesar de tanto reconhecimento, Laurimar é humilde. O artista, considerando um gênio da pintura brasileira, não tem uma vida de glamour, ao contrário, passa o dia sentado relembrando os bons tempos. Sua casa, localizada na Avenida Mendonça Furtado, abriga o que restou de um legado expressivo, mas sem luxos, o lugar parece ter parado no tempo. Pelas praças, a cidade exibe uma galeria a céu aberto com algumas das suas obras: na Praça São Sebastião são construções perfeitas, réplicas gigantes da cerâmica dos Índios Tapajó; na Praça da Liberdade para fazer jus ao nome, as correntes foram quebradas na homenagem à libertação dos escravos; no Centro Cultural ele restaurou as pinturas originais da sala do júri pintadas pelo artista plástico Joao Fona, que dá nome ao lugar e os quadros da galeria de intendentes e prefeitos de Santarém foram pintados por Laurimar.
Com personalidade forte e bom humor, o artista plástico não pensa nos problemas que hoje ainda enfrenta. Prefere se expressar através das histórias e esquecer os dias difíceis pintando com as mãos. E assim envelhece com a certeza de que tudo que viveu valeu a pena… “Eu sempre tive em mente trabalhar com arte e se não existisse arte talvez o Laurimar Leal nem existisse”, encerra.